Poucos nomes no mundo do automobilismo podem ser celebrados com tanta admiração quanto Paul Frère. Nascido em 30 de março de 1917, em Le Havre, na França, filho de pais belgas, ele construiu uma carreira singular ao unir com maestria três mundos: o das corridas, o da engenharia e o do jornalismo especializado. Mais do que competir em alto nível, Frère deixou uma marca profunda como pensador, escritor e testador de carros — e seguiu ativo até os 90 anos.
Das motos aos grandes prêmios
A trajetória competitiva começou em 1946, nas pistas de motocicleta na Bélgica. Dois anos depois, Paul migrou para os automóveis, já com formação em engenharia. Em 1952, deu início à sua história com a Fórmula 1, disputando provas oficiais até 1960, embora nunca tenha feito uma temporada completa. Seu melhor resultado foi um notável 2º lugar no GP da Bélgica de 1956, ao volante de uma Ferrari D50.
Além disso, Frère participou de diversas corridas fora do campeonato oficial, vencendo o GP da África do Sul em 1960, pilotando um Cooper Climax.
Mas foi em Le Mans que Paul escreveu seu capítulo mais emblemático. Venceu a lendária 24 Horas de Le Mans em 1960 com uma Ferrari 250 TR, ao lado de Olivier Gendebien. Antes disso, havia sido vice nessa prova em 1955 e 1959, e quarto colocado em 1957 e 1958.
Um jornalista que também pilotava (e como!)
Mesmo em plena atividade como piloto, Frère atuava como jornalista automobilístico, com um estilo técnico e preciso, respaldado por sua formação em engenharia. Para Luca di Montezemolo, ele não era um piloto que virou jornalista, mas “o único jornalista que teve sucesso como piloto de elite”.
Era também elogiado por sua pilotagem suave e eficiente. Enzo Ferrari dizia que, para levar um carro ao final de uma corrida longa com boa colocação, “você deveria entregá-lo a Paul Frère”.
Muito além das pistas
Após se aposentar das corridas, Frère passou a atuar como consultor de montadoras e se tornou o redator europeu da revista Road & Track. A partir desse trabalho, testou os mais diversos superesportivos — sempre com precisão técnica e capacidade de interpretação acima da média.
Mesmo após os 75 anos, seguia testando carros a velocidades que muitos jovens não acompanhavam. Aos 86, guiava com vigor juvenil — até sofrer um grave acidente com um Honda Civic Type R em Nürburgring, fraturando costelas, a pélvis e perfurando os dois pulmões.
Entre seus livros mais renomados, dois se destacam como leituras obrigatórias para os apaixonados por automobilismo:
- “Sports Cars and Competition Driving”
- “My Life Full of Cars”
Testes memoráveis e feitos inacreditáveis
Em 1966, já aposentado, foi convidado por uma emissora alemã para guiar um Porsche 904 com uma enorme câmera a bordo nos 1000 km de Nürburgring. Mesmo com um carro inferior aos demais Porsche 906, Frère superou metade deles nas primeiras horas de prova.
Em 2003, aos 86 anos, testou o Audi R8 de Le Mans a convite da montadora. Mesmo com a perna esquerda fragilizada por uma fratura recente, saiu com o carro “no tranco” e cravou 307 km/h na reta de Hunaudieres, apenas 10 km/h a menos que o mais veloz dos pilotos da equipe. Com o tempo de volta registrado, estaria qualificado para largar em Le Mans, caso estivesse competindo.
Outro episódio marcante foi quando, aos 85 anos, testou a Ferrari Enzo em Fiorano. Após fazer perguntas tão complexas aos engenheiros que os deixou sem resposta, entrou na pista e girou num ritmo que deixou jornalistas e engenheiros boquiabertos.
“Quem está dirigindo assim?” — perguntou um dos presentes.
“Um senhor de 85 anos” — respondeu o jornalista italiano Gianni Rogliatti.
“Não brinca, fala sério…”
Um ícone respeitado no mundo todo
O fotógrafo John Lamm, da Road & Track, sintetizou Paul Frère de maneira brilhante:
“Paul Frère dirige como você sempre sonhou dirigir, troca entre cinco idiomas antes mesmo de você terminar uma frase na sua língua, acessa seu banco de dados automobilístico como um processador Pentium e ainda faz tudo isso com uma elegância que faz você querer encontrá-lo de novo o mais rápido possível.”
Uma conexão com o Brasil e uma despedida à altura
Poucos sabem, mas foi Paul Frère quem deu a bandeirada de largada no primeiro Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, em 1972, em Interlagos — um gesto simbólico que o conecta à história do automobilismo brasileiro.
Frère faleceu em fevereiro de 2008, aos 91 anos, em Saint Paul de Vence, na França. Em homenagem, o circuito de Spa-Francorchamps rebatizou uma de suas curvas mais rápidas com o nome “Curva Paul Frère”, eternizando sua importância no automobilismo mundial.
Conclusão
Paul Frère foi muito mais que um piloto. Foi um pensador, um exemplo de longevidade, um jornalista respeitado e uma figura admirada por gerações. Um homem que guiava como um mestre, escrevia como um poeta técnico e deixava todos ao redor mais inteligentes e inspirados. Um verdadeiro ícone — na pista, no papel e na memória de todos que amam o automobilismo.

1 comentário
Paul Frère tem seu nome na historia do automobilismo, assim como outros importantes icones do esporte. por um outro lado parabens ao Seabra que nao somente trouxe o nome doPaul Frère para conhecimento de muitos como assim como o personagem de seu conto, nos trouxe um texto com cadencia e muita aceleração.