Nos anos dourados da Fórmula 1, quando o asfalto era palco para artistas da velocidade como Alain Prost, Nelson Piquet, Ayrton Senna e Niki Lauda, um inglês de bigode espesso e coração indomável escrevia sua história – entre glórias, azares e trapalhadas. Seu nome: Nigel Mansell.
Era 1984, e o calor sufocante do verão texano recebia o circo da velocidade para o Grande Prêmio de Dallas, realizado no improvisado e escaldante circuito de rua de Fair Park. Era a nona etapa da temporada, e o cenário parecia mais um teste de resistência do que uma corrida.
Nos treinos, Mansell mostrou sua força: conquistou a pole position com autoridade, seguido de perto por seu companheiro de equipe, Elio De Angelis. A Lotus celebrava a dobradinha na primeira fila, enquanto o jovem Ayrton Senna largaria em terceiro.
A largada foi dada às 11 da manhã. O sol já ardia como uma fornalha. Logo nas primeiras voltas, Senna foi superado por Derek Warwick, que partiu para cima de De Angelis. Houve ultrapassagem, mas o piloto da Lotus respondeu à altura, devolvendo a manobra com elegância e firmeza.
A corrida, no entanto, logo se transformaria em uma sucessão de abandonos e confusões. O asfalto se desmanchava sob o calor, e os carros lutavam tanto contra os adversários quanto contra a pista. Metade do grid não veria a bandeira quadriculada: nomes de peso como Lauda, Prost, Senna, Piquet, Patrese, de Cesaris e tantos outros tiveram suas corridas abreviadas por problemas mecânicos ou toques fatais.
E no meio desse caos, Mansell resistia. Brigava com o carro, com a temperatura, com o próprio corpo. Estava em quarto lugar quando o destino, sempre disposto a pregar peças ao inglês, resolveu intervir. A caixa de câmbio da Lotus-Renault quebrou. Faltavam apenas alguns metros.
Movido pelo desespero e pela obstinação que lhe renderia anos depois o apelido de “Leão”, Mansell saiu do cockpit e tentou empurrar seu carro rumo à linha de chegada. A multidão assistia, incrédula, àquela cena dramática: o piloto cambaleante, forçando cada músculo, determinado a cruzar a linha.
Mas o corpo não suportou. O calor, brutal, venceu. Mansell desmaiou antes de alcançar seu objetivo. Mesmo assim, graças à distância percorrida e ao abandono de tantos adversários, terminou a prova em sexto lugar, conquistando um ponto heroico – ou trágico, dependendo do olhar.
No alto do pódio, Keke Rosberg celebrava a vitória. René Arnoux ficava com o segundo lugar e De Angelis, seu companheiro de Lotus, completava o pódio em terceiro. Mas naquele dia, não foi o vencedor quem ficou na memória., mas sim um Leão que caiu tentando vencer.
2 Comentários
Excelente artigo.Tao real que comecei a sentir o calor daquele dia! Tive que ligar o ar condicionado. Maravilhoso… Parabéns!
Texto excelente. Conseguiu traduzir toda a emoção do momento.
Parabéns!