A classe de protótipos Hypercar, tanto no Campeonato Mundial de Endurance da FIA (WEC) quanto no IMSA WeatherTech SportsCar Championship, é, sem dúvida, uma das mais vibrantes e inovadoras no cenário automobilístico atual. Sua combinação de alta performance e novas tecnologias atraiu montadoras renomadas de ambos os lados do Atlântico, gerando corridas eletrizantes e estreitando ainda mais o vínculo entre automobilismo e sustentabilidade. No entanto, a pergunta que paira sobre o futuro próximo é: para onde essas inovações estão indo? Será que veremos carros movidos a hidrogênio ou eFuel tomando o lugar dos híbridos nos próximos anos?
Embora o regulamento atual da Hypercar tenha sido confirmado até 2029, com uma extensão já anunciada em Le Mans no ano passado, as discussões sobre o futuro da categoria já estão em andamento. A Porsche, uma das grandes forças da categoria, tem defendido uma unificação das regras, apostando em uma plataforma única para as montadoras. A ideia é criar um quadro regulatório onde os fabricantes possam colaborar com a FIA e o ACO, garantindo uma abordagem mais coesa para o futuro.
Atualmente, os protótipos da Hypercar coexistem com a classe LMDh, que, embora distinta, compartilha várias semelhanças técnicas. A proposta de unificação das regras é vista como uma forma de controlar os custos, sem perder a competitividade. No entanto, as novas tecnologias, como os carros movidos a hidrogênio, estão se tornando uma parte importante do debate.
A FIA e o ACO estão trabalhando com fabricantes selecionados para desenvolver protótipos movidos a hidrogênio que devem estrear em Le Mans e no WEC a partir de 2028. Com a pressão crescente por soluções mais ecológicas, a introdução do hidrogênio promete ser uma grande transformação para a indústria automotiva e para o automobilismo.
Híbridos, eFuel e Hidrogênio: Qual Caminho Seguir?
Nos bastidores do WEC e do IMSA, muitos questionam se a atual combinação de carros híbridos continuará a ser a opção mais viável ou se será substituída por tecnologias como o eFuel (combustíveis sintéticos líquidos produzidos a partir de hidrogênio e CO₂). Durante o evento de abertura do WEC no Catar, Thomas Laudenbach, vice-presidente da Porsche Motorsport, foi questionado sobre essa possibilidade e afirmou que, embora o eFuel seja uma solução interessante, ele acredita que a eletrificação, em conjunto com o uso de eFuels, é o caminho mais promissor.
Laudenbach destacou que a Porsche é uma forte defensora da eletrificação e dos eFuels, mas não acredita que a substituição dos híbridos seja uma solução viável no curto prazo. Para ele, a mistura de eletrificação com combustíveis renováveis tem mais chances de sucesso.
Por outro lado, a possibilidade de integrar tecnologias como o hidrogênio diretamente nas regras da Hypercar geraria desafios adicionais. O uso de hidrogênio líquido, por exemplo, é mais complexo do que o hidrogênio gasoso, o que poderia aumentar o custo e a dificuldade de equilíbrio entre os diferentes tipos de tecnologia em pista.
A Solução: Definir as Regras do Jogo
Apesar dessas discussões tecnológicas, Laudenbach acredita que o primeiro passo é unificar as regras para evitar a fragmentação entre LMH e LMDh. A solução poderia ser a criação de um regulamento único que permita uma maior flexibilidade técnica para as equipes, mas com limites bem definidos para evitar os altos custos que marcaram a era do LMP1.
“Com uma base regulatória comum, podemos evitar a divisão entre diferentes tipos de carros e ter uma maior cooperação entre os fabricantes”, explicou. Ele acredita que, ao reunir as necessidades dos fabricantes, seria possível estabelecer um conjunto de regras mais equilibrado e sustentável a longo prazo.
Além disso, a Porsche defende que a categoria precisa de um teto orçamentário rigoroso para garantir que o automobilismo de resistência continue acessível e competitivo. A proposta de um controle de custos ainda precisa ser discutida, mas Laudenbach acredita que esse é um passo fundamental para garantir o futuro da categoria.
Desafios e Oportunidades
A necessidade de tomar decisões agora é urgente. Laudenbach destacou que a indústria do automobilismo está em um momento crítico, e o futuro das corridas de endurance precisa ser planejado para a próxima década. “A estabilidade financeira e a sustentabilidade das equipes são essenciais para garantir que as corridas de endurance continuem a ser atraentes”, ele alertou. Para ele, o maior erro seria não começar as discussões sobre o futuro e esperar que as coisas se resolvam sozinhas.
A Porsche, assim como outras montadoras, precisa garantir que os investimentos em automobilismo se alinhem com os objetivos corporativos a longo prazo. O aumento dos custos no setor está tornando mais difícil justificar orçamentos para o automobilismo, especialmente em tempos de crescimento acelerado da eletrificação. A pressão para balancear inovação com controle de custos será um dos maiores desafios da próxima década.
Em um cenário ideal, o automobilismo de resistência precisa evoluir para abraçar novas tecnologias sem perder sua essência de competição e inovação. Com a introdução do hidrogênio e do eFuel, a categoria tem a chance de se tornar um laboratório para o futuro da mobilidade. No entanto, para que isso aconteça, será necessário um equilíbrio entre inovação, sustentabilidade e controle de custos. A decisão que as montadoras e as entidades reguladoras tomarem agora moldará o futuro das corridas de endurance por muitos anos.