Confesso: quando o GP de Mônaco terminou, minha primeira sensação foi de leve euforia. Achei que, enfim, a Fórmula 1 tinha encontrado uma maneira de tornar o circuito mais glamouroso do calendário também um pouco mais interessante do ponto de vista esportivo. A obrigatoriedade das duas paradas me pareceu, naquele momento, uma decisão acertada. Trouxe uma dose de tensão estratégica que raramente vemos por lá e forçou as equipes a olharem para o todo, e não apenas para o desempenho individual de cada piloto.
A Williams e a Racing Bulls, aliás, deram uma verdadeira aula nesse aspecto. A forma como coordenaram seus pilotos para cumprir as paradas e garantir boas posições — sobretudo no caso de Hadjar e Lawson — mostrou que ainda existe espaço para inteligência tática mesmo em um traçado que praticamente proíbe ultrapassagens.
Durante a corrida, me vi totalmente atento. Não pela emoção na pista — sejamos sinceros, não houve muita — mas pelo jogo mental acontecendo nas estratégias de boxes. Cada pit-stop carregava potencial de virar o tabuleiro. Verstappen tentou a cartada mais ousada, apostando tudo em uma possível bandeira vermelha que não veio. Norris, Leclerc e Piastri, por outro lado, fizeram tudo com precisão cirúrgica. Vitória justa do Lando, aliás.
Mas, passado o calor do momento, e depois de ouvir e ler análises diversas, comecei a repensar. A verdade é que o GP de Mônaco, mesmo com essa tentativa, continua sendo um desfile com pouquíssimo espaço para espetáculo. O charme está lá, claro. A tradição, a aura, o cenário… tudo remete à história da Fórmula 1. Mas o traçado não conversa mais com o que a categoria se tornou: carros grandes demais, pistas estreitas demais, pouca margem para disputa real.
Fala-se há anos em alterar o circuito urbano do Principado. Nunca sai do papel. E os carros, sabemos, não vão encolher tão cedo. Diante disso, talvez seja hora de repensar com mais coragem: por que manter Mônaco a qualquer custo? Se outros circuitos históricos, como Ímola, foram deixados de lado por não oferecerem um “bom espetáculo”, por que Mônaco ainda tem esse salvo-conduto?
Seria uma decisão ousada, sem dúvida. Mas talvez necessária se o foco da Fórmula 1 for entregar corridas de verdade, e não apenas vitrines sofisticadas. Claro que não sou contra a tradição — ela faz parte do DNA do esporte — mas quando ela sufoca a competitividade, vira peso morto.
No fundo, a sensação de que gostei da corrida veio mais da minha tentativa de encontrar um ponto de interesse — as estratégias, os posicionamentos, os possíveis erros — do que da emoção propriamente dita. No fim das contas, o GP foi… chatinho. E olha que estou tentando ser gentil.
Sim, eu mudo de opinião. E qual o problema disso? Nenhum. Como diria Jorge Luis Borges:
“Quizá haya enemigos de mis opiniones, pero yo mismo, si espero un rato, puedo ser también enemigo de mis opiniones.”
Mônaco pode continuar no calendário? Pode. Mas talvez com outro papel. Porque como corrida… está cada vez mais difícil de defender.